domingo, 6 de novembro de 2011

Por esta, por aquela, poesia...

O poeta usa a pena, e, sem pena escrevive o que ninguém vê...
Movido por sentimentos, poentes ou nascentes, atravessa por travessas e pontes, travessões e mentes...
Voa nas letras, com asas escritas à tinta, e se a pena cai, a poesia pousa, pausa, mas nunca é extinta...
O poeta porta a palavra que abre a porta... A chave de amor que a dor conforta...
Como poeta parto parado, tomo partido, e sonho acordado.
-Ei, ainda estás ai?
-Estou -Disse eu, que era ele até aquele momento.
-E por que sumiu? Não hão mais duvidas? Sem mais dilemas? Sem auto-contradições(automáticas)?
-Ainda está tudo aqui, em mim, em ti, na gente(exatamente por sermos gente)
-No meio dessa gente toda? E a urgência, pra onde foi?
-Pra longe, agora só tenho a calma(ainda que por vezes me inquiete)...

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sinto muito, mas: Eu sinto demais.



Repetindo:


A dor me lembra que estou vivo.
A vida me fez temer a dor...
Adorei meu próprio deus: A felicidade.
Viver dói -Anestesia, por favor!
-Não! O velho já tinha me dito: Sentir é o que vale. Cancelem a morfina.
Prefiro sofrer conscientemente, não sou só mais um "feliz" entorpecido










*Não, eu não sou "infeliz". Só gosto de sentir. E não sinto muito por sentir demais.

sábado, 27 de agosto de 2011

Sobre olhares. (Olhares sonoros).



Acordei entediado: Como sempre, quis fugir.

Virei pro lado e me vi no espelho...

-Me aproximei-

Desejei profundamente quebrá-lo: sumir com os reflexos , tanto de mim quanto de meus atos.

-Me aproximei mais-

Percebi todos os objetos do meu quarto; principalmente meu violão: calado, só um violão que não estava sendo tocado naquele momento.

-Encostei a testa no espelho-

Olhei no fundo de meus próprios olhos, ou do reflexo deles...

Vi que havia alguma beleza. -São negros ou castanhos?-

De fato tenho olhos quase comuns...

Lembrei do que tinha visto ontem, e desejei jamais ter tido olhos...

-Mudei de idéia-

Não... Sem olhos jamais teria te visto, e sem ter te visto eu jamais teria tanta beleza em meu olhar...


*Algumas imagens tocam pessoas do mesmo jeito que algumas pessoas tocam violão... Mas o efeito dura mais em pessoas que em instrumentos. –O que não dizer que não passe-.



Sobre olhares.


Livros são mundos inteiros: seus países são capítulos; parágrafos são estados; e as palavras são lugares mais específicos: onde nos encontramos, ou nos perdemos mais ainda.

Naquela tarde eu era um astronauta... Cada estante me parecia um sistema solar: cheio daqueles planetas de palavras; e eu vagava fora de órbita por aquele universo de papel e tinta... Tudo que existe cabia naquela livraria, aliás: até o que não existe era cabível ali.

Ela entrou: com seus cabelos vermelhos, em cachos: uma cachoeira de flama; puxou um dos planetas -que estava escondido atrás de uma prateleira; possivelmente ela mesma havia escondido n'outrora-. Não consegui ver seus olhos: a haste lateral dos óculos impedia, junto com os cachos que caiam levemente por sobre seu rosto enquanto ela debruçava-se pra sobre o livro, agora aberto em suas mãos.

Pensei no que falar; pensei no que não falar; também me perguntei sobre o porque eu querer dizer alguma coisa... Até que, com medo que a oportunidade passasse e o momento se fosse, eu disse sem pensar:
-Nunca falei com ninguém só pela beleza... -Ela me lançou um olhar que era uma mistura de surpresa com desdenho, e voltou a ler- .
-Continuei: -Então eles são azuis... Azul gelo, certo? Acho adequado... Podes me fulminar com um olhar frio agora.
-Ela sorriu. Dessa vez de uma maneira condizente, e me olhou por cima das lentes:
-Espero que não faças nenhuma metáfora dizendo que meu olhar é um iceberg aonde estas à naufragar...
-Sorri diante da resposta. Ainda sorrindo respondi: -Não sou desses que querem amores de morrer, prefiro os que avivam... No máximo diria algo sobre como o azul gelo faz contraste com o vermelho flama dos teus cabelos, e, se depois disso teus olhos brilhassem, então eu soaria arrogante e diria que teus olhos são chama azul, e eles sendo chama eu sopraria-lhes as minhas palavras mais inflamáveis para que eles queimassem mais e me aquecessem, e enquanto houvesse calor eu me manteria ao alcance deles, mas se eles voltassem a ser gelo eu me afastaria... Naufrágios em olhos de gelo são muito cliché... É, isso seria o máximo que eu diria...
-Os olhos dela brilharam... E eu fitei-a esperando alguma resposta

Ela foi embora -como sempre-... As vezes imagino por onde e por quais motivos aquele olhar tem queimado... Nessas horas me sinto aquecido. Aquecido pela chama dos meus próprios olhos: olhando pro nada e vendo tudo, ou pelo menos tudo que vi naquele dia. Aquela visão me fez nutrir uma chama só minha. Viva.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Só uma.



Só uma... Só uma... *ecoando*

Eu queria só uma...

Mas não sei quem é, e, provavelmente não a conheço...

E se eu achar que é, e não for?

O jeito é tentar de novo...

E se eu achar que não era e tiver sido?

Só uma... Só uma... *ecoando*






Desde quando? Até quando? Por quanto tempo?

Desde ontem. Até não sei quando. Enquanto valer a pena.


terça-feira, 16 de agosto de 2011

A vida ocorre enquanto a gente corre.



Corremos desde crianças: seja atrás da bola, de pipas, ou só por apostar -pra ver quem é o primeiro a chegar-.

Corremos na adolescência: atrás de amores; de bandas de garagem; ou de passar no vestibular...

Corremos quando adultos: buscando dinheiro, querendo sucesso e tentando agilizar.

Um dia,
Cansamos...
Finalmente percebemos.
Sentamos sem pressa: Observando. Correndo atrás do que corria enquanto corríamos: O tempo -Perdido?- .
Dessa vez corremos parados: finalmente percebemos que a vida já corre demais, e que é burrice querer acelerar.

Amilton montes


Ler livros é fácil: se não entendemos alguma palavra é só usar o dicionario, ou ver o contexto dela; se for neologismo basta imaginar.
Ler a vida sim é difícil. São tantas situações descontextualizadas, tantos silêncios eloquentes ; tantas reticências de um ponto só, de dois, de três, sem pontos ou com centenas deles.

Tantas entrelinhas em um olhar...


Quando se trata de pessoas, as vezes sou analfabeto.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A mãe embala o filho no balanço e,
A alegria do filho embala a mãe: Em um sorriso manso...
O filho pensa sobre a bala que quer mastigar;
-Deixa pra depois menino, isso vai estragar seu jantar!

A bola dança na grama e,
O muleque descalço é seu par...
Bailam e rebolam, driblando todo o salão
Uhh, quase foi gol: a dama bateu no travessão...

A poesia se embola com o dia;
E o sol desola o céu, se pondo quase ao chão...
Minhas palavras transbordadas no papel,
Insuficientes...

Boa parte do que eu vi se afoga em meio à imensidão.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011



Ah, meu quarto... Mais uma vez me acomodo nesse cômodo incômodo...
Como dói... Ou devia: se doesse, pelo menos alguma coisa sentiria... Na verdade não dói: A rotina anestesia.
Fico dormente; demente. Minha caneta no papel mente. Mente tão bem que acredita ser gente: Gente de letras em linhas -entrelinhas-; fora de linhas.
Me perco nas minhas palavras... -que deviam ser dela, ou já são- ...

Outro devaneio, mera quimera, outra ilusão.
Perdi
a
linha.
Me acho: Ainda estou no meu quarto. Dane-se, de poesia estou farto.




IMAGEM: O quarto De Van Gogh.

sexta-feira, 29 de julho de 2011


O sol nasce todo dia, e ainda sim é velho. Eu só nasci uma vez -exatamente há vinte anos- e dizem que sou novo...

Os anos? Os anos nunca importaram de verdade... A vida sim, tanto o que foi vivido quanto o que deixou de ser. Mas, o que deixou de ser?

A Partir de hoje sou como o sol. Afinal, a gente renasce em cada descoberta, em cada nova alegria.



"Remember when you were young, you shone like the sun..." (Shine on you crazy diamond - Pink Floyd)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Pro inferno com a morfina.

Era um hospital de quinze andares bem no meio daquela metrópole -suja de sangue, álcool e fumaça; tudo misturado com o cheiro de suor-. Ele estava no penúltimo andar, na cama ao lado da minha, os curativos cobriam quase todo o seu corpo -fora alvejado por tantas balas que ficou parecendo uma peneira, com todos aqueles furos-; os remédios entravam por um tubo posto na veia do seu braço esquerdo junto com o soro, e o sangue saia em resposta: Por cada perfuração coberta daquele corpo desfalecendo.
Ele estava na cama da janela, e eu sabia que logo aquela cama passaria a ser minha... E, se não fossem aquelas transfusões que faziam, para repor o sangue que ele suava pelos poros, eu já teria visto o que tinha do outro lado daquela janela; então perguntei :
-Quando é que vais parar de beber o sangue alheio e partir de uma vez, vampiro de hospital?
-Isso também não me agrada, eu prefiro um bom wisky ou uma vodka. Mas, essa groselha que entra pelas minhas veias é que me mantem vivo, e viver é melhor que qualquer bebida.
Os enfermeiros tinham parado de dar as doses de morfina dele -eles usavam neles mesmos, ou vendiam-, e a dor era tão evidente na sua expressão que eu podia senti-la como se fosse em mim. Ecarei-o um pouco. Ele me retribuiu com um sorriso, cínico. Então continuei:
-Posso desligar os tubos se quiseres. Não vais passar dessa semana mesmo, e os enfermeiros viciados não vão mais te anestesiar.
-Não quero anestesia...
-Preferes sentir dor?
-O que mais eu sentiria aqui?
-Nada, as vezes é melhor não sentir.
-Idiota... -Podia-se notar o desprezo e arrogância no olhar que ele me lançou, e ele continuou... -Enquanto doer, vou saber que ainda estou vivo.
Calei a minha boca. Nenhum analgésico podia amenizar o que eu senti nos dias seguintes. O homem da cama ao lado sorria até o fim, contente por sentir. Ele me ensinou que isso era só o que importava.



*Me queime vivo ou congele-me até as coisas esquentarem o bastante para que eu derreta, mas não me deixe morno... O meio termo não me cabe, afinal se eu for grande vou passar por cima da cerca, e se for pequeno me esgueiro por baixo dela, mas, se for médio vou acabar preso... Eu, preso por uma cerca?

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Polissemia romântico-existencialista.


Sinto agora, e mais tarde passa...
Depois que já senti: sentido está, ou estava...
Não sinto ter sentido, não tem sentido sentir.
Sente-me, pois, sem ti me sinto só.
SENTIMENTOS: sentimos em momentos.

Passageiros... Viajando com um único sentido: Em frente.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Tentando acordar da realidade 3.



(De play e ouça enquanto lê.)


De novo, e de novo e de novo: a velha vontade de sair me persegue, sem dificuldades já que eu fico aqui sentado.
Queria estar agora numa praça soturna, com um banco no meio, rodeado por árvores e mais ninguém; talvez alguém que tocasse violão, ou um violão que tocasse só... O fato é que eu queria ser tocado pela musica. - Poderia tocar eu mesmo, mas preferiria ficar imóvel-.
Faria um acordo com os acordes para que eles me acordassem dessa realidade monótona, muitas vezes vivida em piloto automático, e em troca eu daria a única coisa que posso oferecer humildemente à musica: Meus ouvidos. E ouviria, ouviria como se fosse meu melhor amigo falando, ouviria como se cada som fosse minha poesia favorita sendo recitada, ouviria cada nota notável dessa harmonia de viver.
A lua iluminaria, e a musica de fundo seria uma serenata espanhola chamada: spanish romance. Que cai perfeitamente aos ouvidos, nessa noite, seja só ou acompanhado.
É tarde, e me disseram que não é seguro sair a essa hora... Mas, o que na vida é seguro de fato? Viver é perigoso, mas quem evita a vida pra se proteger, corre um risco muito maior: O de não viver.

Talvez eu não queira só sair de casa, do meu bairro, cidade, estado ou pais... Acho que eu quero mesmo, é sair de mim.














Vídeo: Spanish Romance - Compositor anônimo, interpretado por Nelson Amos. Fonte: Youtube.

sábado, 9 de julho de 2011



-Pai, porque o senhor não tem pai também?
-... Eu tive, meu filho, mas ele foi pro "céu" ...
-Ah... Eu já ouvi sobre o céu... A mulher da TV disse que se seguimos o caminho certo, a gente vai pra lá... Fica ali ó! -Disse o menino apontando pro céu, e inocentemente achando que tinha dito uma grande verdade.
-O pai sorriu -
-O menino continuou -Qual é o caminho pai? Vamos por esse caminho, ai a gente visita o seu pai, e volta pelo mesmo caminho: não da pra se perder se voltar pelo mesmo caminho. É assim que a gente volta da escola todo dia: O senhor me leva pra ela, e me traz pelo mesmo caminho, é seguro.
-Uma lagrima desceu do rosto do pai, e ele não queria desapontar o filho, então sorrindo perante a genialidade imaculada do menino, ele disse - Filho, o céu é muito grande, e não tem uma porta. Todos os caminhos nos levam pra ele, e tem alguns que conseguem chegar lá mais rápido que outros... Ele fica lá em cima mesmo, você acertou - Então os dois olharam pro céu, que estava azul e com nuvens quase transparentes...
-Eu sei que é lá em cima pai, mas como a gente vai chegar lá? É mais alto até que as escadas da escola, e eu nem subo elas até o final! Eu tenho medo de altura...
-Não precisa ir até lá pra chegar... Não precisa ter medo, você tem medo de ficar em pé todo dia?
-Claro que não! Eu até corro e pulo, e eu adoro pular e correr! Mas eu sou baixinho... Não é alto o suficiente pra dar medo.
-Você é baixinho agora... Mas, um dia vai ser muito alto, e vai crescer um pouquinho todo dia, nem vai perceber que cresceu tanto... Só vai notar a diferença quando ver as fotos de quando era menor.
-Claro que não! O senhor riscou minha altura na parede, com aquele lápis, semana passada, é só eu ver se eu passei do risco... Mas eu não vou ter medo! Vou ficar bem grande, ai vou conseguir pegar os biscoitos que ficam naquele pote, em cima da geladeira!
-O pai riu -Isso mesmo campeão, vai conseguir pegar todos os biscoitos que quiser, e sua mãe nem vai reclamar. E é assim que a gente vai pro céu: Crescendo. Crescemos um pouquinho todo dia, no fim do ano a gente já cresceu o suficiente pra perceber. Passamos a vida toda indo pra cima, cada centímetro que crescemos faz ficarmos mais perto do céu, e quando você estiver do tamanho que tem que estar pra chegar lá, acontece algo inesperado, e você vai pra lá... Mas não precisa ter pressa, porque depois que cresce, não da pra diminuir, então quando a gente chega lá, não da pra voltar, nem pelo mesmo caminho.
-Nem com banho de água fria? A mamãe diz que minha roupa encolhe com água fria. Eu posso crescer, ir pro céu, tomar um banho gelado e voltar...
-O pai soltou levemente outra risada -Não, água fria só funciona com roupas. Então não tem volta mesmo.
-Ah, entendi! Então vou crescer bem devagar...
-Isso, bem devagar, as coisas acontecem na hora que tem que acontecer... E, falando em hora, é hora do almoço. Temos que ir, sua mãe vai ficar uma fera se atrasarmos.
-Ta bom! Eu to morrendo de fome mesmo. Depois do almoço o senhor pega um biscoito de cima da geladeira pra mim? Só até eu alcançar a lata...
-Pego...
E os dois foram pra casa, felizes, olhando pro céu e imaginando que gostosuras iam comer naquele dia.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Quero que queiras o mesmo que eu quero.

Eu já gritei a liberdade dos meus amores pra mais do que quatro ventos, já desisti de possuir e aboli minha escravidão sentimental.
Mas, agora é diferente, agora quero desistir disso tudo, só pra insistir em ti: Quero que rasgues minha alforria, ou compre-a com tuas palavras de poesia-feitiço, e ponha a euforia de sentir, aonde só havia a minha lógica covarde.
Sei que tudo tem um fim, mas mal começamos e já me fazes planejar - Não sou disso! -, queria, e quero: Que só queiramos um ao outro, queiramos juntos e queiramos sós, eu e tu sozinhos naquela rede.

sábado, 2 de julho de 2011

Escrevivendo, de novo.

Espero pra viver, vivendo...
Cheguei até aqui, e vim vendo.
Com minhas alegrias, simples companhias, sejam elas seres vivos, ou não...
Quero sempre algo diferente, mas por vezes me acomodo...
E de que modo não faria? O que buscar?
Amor? Amigos? Novas sensações?

Viver é o que o cérebro interpreta de experiências sensíveis, quem nada sente, já morreu.



Escrevi o que vi
Escrevi no vir, no estar e no ir
Escrevi, vi
Escrevi, vendo
Escrevi, (vem) ver
Escreveria mesmo que ficasse cego;
Escreverei até eu morrer.

Já amei, e sei como meu amor funciona: Ele é livre, não me julgo dono dos meus amados, sejam eles vivos ou não; pessoas, animais ou objetos só os quero em minha vida, com a freqüência que à eles for possível e agradável, desde que ainda exista alguma freqüência.

Não acredito em amor a primeira vista, porque primeiras vistas enganam, estão sempre com o bônus da novidade, e o novo –enquanto ainda o é- surpreende e cativa...

Enquanto as surpresas renovam-se, apaixono-me cada vez mais... Mas, a paixão é temporária e irracional, e com o tempo, acabo pensando por demais, e racionando-a por medo de acabar... Porém essas chamas precisam de muito pra queimar, e se diminui-se seu ar, ela começa a apagar, ou pior, sufocar ...

Algumas das paixões viram brasa... E ainda aquecem, aconchegantemente, sem fazer suar nem deixar-me no frio, não são mornas, mas são na medida certa... E essas podem virar amor, as brasas que nunca deixam de incandescer...

Amor não causa dor... Mas me dôo, justamente por não me doar...

Quero alguém que me ame, do jeito que eu amo... Quero sentir junto, sem posses, ficar a deriva do sentimento... Ao mar... Ao vento...

Murmúrio

Sopra, se é amor, deixa à mar...

Na vela ele navega e queima...

Pois ambas as velas, como meus pulmões,

Se alimentam desse ar...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Diálogo de um homem só.

Tarde de sol, cedo e só...
"Folheio" a agenda digital do meu celular, mas ninguém está disponível...

- Por que não ir só?
- Porque nós estamos solitários... E é aquela solidão boa de se curtir acompanhado...
- Mas, temos uma mochila, um caderno, uma caneta e umas moedas pro ônibus... Do que mais precisamos?
- De um lugar...
- Pra que? Se sairmos sem rumo, qualquer rumo será o certo... E além disso, não somos nós que dizemos que o que importa é ir, e não chegar?
- Somos... Mas a musica esta tão boa aqui... O Oswaldo me entende...
- Se sairmos, podemos conhecer melodias novas, pessoas novas e até "ela" ...
- "Ela" ? Ela é só temporária... É sempre só uma delas, e nunca é nossa, pelo menos não só nossa...
- Também somos nós que odiamos quando uma pessoa tenta possuir a outra, ou esquecemos disso?
- Não nos deixamos esquecer...
- ...
- Porque estamos usando travessão, se somos a mesma pessoa falando?
- Pra atravessar... De um lado da gente pro outro, pra ligar os dois extremos... Além disso, seria loucura um diálogo sem travessão. Não se saberia quem esta falando, quem pergunta ou quem responde.
- E aqui se sabe? ...
- ...

*E eu fui só, ou melhor, nós fomos, todos nós, não só os dois da conversa... É, nós continuamos indo, as vezes até sem sair do lugar... Mas sempre indo...




"Eu hoje acordei tão só, mais só do que eu merecia... Eu acho que será pra sempre, mas sempre não é todo dia ... " (Oswaldo Montenegro - Sempre não é todo dia.) .

segunda-feira, 13 de junho de 2011

escrevivendo.


Escrevo na minha mesa, de lápis...

Escrevo para que o que eu escrevi se apague, junto com os motivos que me levaram a isso...

Bem devagar...

Conserto os erros... Com meios riscos, que não encobrem totalmente com as falhas...

Concerto os eros como se escrevesse de caneta, como se escrevesse do modo que vivo.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Linguagem pra ser vista .











Texto 1 - Vendo o tempo por um tempo.







Olho pro tempo, e nada vejo, ou melhor, vejo tudo, já que tudo passa pelo tempo... Ou o tempo passa por tudo... Ou tudo vira(rá) passado ...






Faz tempo que o tempo me faz...
Faço tempo quando tenho a falta do que fazer...
Temo que falte tempo quando estou com você(s)
Meu prólogo se prolonga enquanto em prol do futuro narro -e faço- coisas no presente...
Em presente Me dou pra ti, só quando e o que posso dar...
Meu pretérito imperfeito me ensinou o que não fazer, e o pretérito mais que perfeito tinha estado me iludindo, até eu esquecer...



Texto 2 - Olhando juntos.

Todos que podem, deveriam olhar o seu(

Todos que podem, deveriam olhar o sol...

Todos que podem, deveriam olhar a lua...

Todos que podem, deveriam olhar o céu...

) universo.










Todos vêm ao mundo, veem e são vistos, se não com os olhos, veem com as mãos, veem com os ouvidos, veem com o paladar e com o olfato, veem o que vier a sua visão, todos juntos, veem e ainda assim, as vezes não enxergam...

Se todos abrissem as suas vistas a outros modos de ver, talvez víssemos melhor, e veríamos o inteiro, veríamos-nós a nos mesmos... Juntos.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Barganhas mal feitas(capitulo 1).

Algumas Historias, sejam reais ou não, tem continuidade... Quem sabe essa seja uma delas ... Ou não...

E estava eu dormindo... Pelo menos creio que dormia, afinal tudo foi muito estranho e difícil de lembrar... Talvez saber que eu dormia, ou que eu achava dormir fosse apenas uma estratégia daquele ''negociante'' de ''produtos raros'' que mesmo sem eu saber me contaria algumas coisas interessantes, e me faria ofertas até que razoáveis logicamente, mas que a maldita ética me inibiu de aceitar.

Naquela noite, enquanto eu tocava em frente a minha casa, esse estranho (em todos os sentidos da palavra) apareceu, me perguntando diretamente, sem nem um oi, e dispensando apresentações a principio.

- Qual o preço da sua alma?.

Eu sorri, e achei que fosse alguma brincadeira mal feita de algum conhecido que eu tivesse me esquecido de conhecer, mas ele não sorria, nem demonstrava qualquer coisa que me fizesse duvidar da seriedade dele.

Eu parei de rir, e perguntei quem era ele(além de me questionar mentalmente se ele tinha usado alguma substancia química...). Ele então finalmente moveu os lábios em sinal de cumplicidade, e disse:

- Alguns de vocês me chamam de demônio...

Eu não me assustei, afirmei a ele que eu sequer tinha fé em deus, muito menos acreditaria em demônios. O suposto homem que antes parecia são, e que agora adquiria pra si um ar de psicopata calculista afirmou:

- Deus existe meu caro. Ele talvez não seja como vocês pensam, mas até eu acredito nele, você não deveria renegá-lo.

Mais uma vez as palavras do aliciador soavam como chacota ou sarcasmo (achei isso naquela hora por eu mesmo ter esse tipo de comportamento às vezes). Novamente a pergunta foi exposta a mim:’’diga o preço de sua alma, todos tem um preço’’ respondi com um balançar negativo de cabeça pronunciando um não sem nenhum som.

O misterioso homem que tinha um estilo de poeta decadente com “metáleiro clássico” insistiu:

- alguns querem dinheiro, outros querem amores que pra eles sozinhos seriam impossíveis, outros querem talento... E você? Pelo que me daria sua alma? Entenda... Minha proposta é ótima, uma vez que você não acredita em paraíso ou inferno, isso aqui é tudo que há pra você, escolha algo que faça tudo isso valer à pena, que te de um sentido pra estar aqui, pelo menos acabaria com sua ansiedade por respostas... E eu só cobraria quando você morresse.

Ocorreu-me então a única coisa que seria prudente pedir em troca da minha alma, uma alma única, a minha favorita e a mais preciosa pra mim, a minha alma! . A resposta foi direta e cheia de pré-potencia por eu achar que desarmaria alguém que se achava superior: ’’ quero a imortalidade pela minha alma, se eu posso pedir qualquer coisa, é o que eu quero, assim não tem como tomá-la de mim há menos que eu morra... O que seria um tanto impossível se me desse o que eu peço...

O mercador parou por um instante para pensar, acho que não encontrou nem uma replica plausível para as minhas condições, resolveu-se então por mudar o preço dele, uma vez que se ele aceitasse não iria receber nada, e ele não me parecia o tipo de pessoa (ou criatura)que faz caridade... Com um segundo sorriso, dessa vez mais seguro de si e cruel disse:

- muito bem, mas se o seu preço é tão alto... você vai ter que me pagar a prestações...

Indaguei:- prestações? Como poderia eu pagar minha alma parcelada? Ela por acaso é divisível? O sorriso dele aumentou, e eu ouvi um principio de gargalhada, que finalmente me assustou um pouco...

Ele completou a gargalhada dizendo: - Com a alma dos seus filhos. Você pode viver pra sempre, mas cada filho que você tiver, ao morrer me deverá a respectiva alma que você não poderia pagar, como dizem por ai, dividas de família morrem na família...

Toda minha arrogância que se devia a achar que as minhas condições não tinham chance de falhar, se esvaia com aquelas palavras...

Eu não tenho filhos, não os tinha nesse ‘’sonho’’ e nem tenho planos de ter-los, mas ainda assim jamais negociaria algo que não me pertencia. Por mais que os filhos só existam por causa dos pais, eles são criaturas livres(na medida que o mundo permite-lhes liberdade) e a posse de suas almas só caberia a eles e não a mim. Perguntei então por que o interesse dele era tão grande na minha alma. Então o sujeito até aqui sem nome, mas que por acasos do destino tinha um boton em forma de estrela que brilhava preso a jaqueta o que me deu a idéia de chamar-lo de ‘’star of light’’* (em latim é mais ‘’engraçado’’) respondeu:

- não faria diferença pra você, e mesmo que fizesse, não cabe a mim dizer-lhe,digamos apenas que você ao sonhar com a imortalidade não pensou em como tediosa ela pode ser, e alguns dos que nunca morrem gostam de fazer apostas as vezes...

Depois de refletir sobre o que ele me disse por um tempo pequeno mas que parecia interminável(o tempo nos devaneios é psicológico, e dura muito mais para quem esta pensando do que para quem espera pelas respostas). Disse-lhe:- Não, a resposta é não, eu posso ser mortal, posso não entender a razão das coisas e posso querer realmente prolongar essa única versão conhecida por mim da realidade... Mas, brincar com a vida das pessoas, ou com a alma delas, isso não é humano, seria preciso que eu fosse um psicopata imortal extremamente entediado... deixo esse tipo de ‘’passa-tempo’’ macabro para aqueles que tenham versões mais ‘’tortas’’ do que é certo’’.

Então acordei... fiquei em duvida se aquilo havia sido um sonho ou pesadelo... Mas tarde eu descobriria que era só o começo, Como dizia o poeta: “ Existe o certo, o errado e todo o resto”

* Star of ligth/star of morning: Significa estrela da manhã, comparada com a estrela d’alva ou Venús, em latim :’’Lúcifer’’

Autor: José Amilton