terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Barganhas mal feitas(capitulo 1).

Algumas Historias, sejam reais ou não, tem continuidade... Quem sabe essa seja uma delas ... Ou não...

E estava eu dormindo... Pelo menos creio que dormia, afinal tudo foi muito estranho e difícil de lembrar... Talvez saber que eu dormia, ou que eu achava dormir fosse apenas uma estratégia daquele ''negociante'' de ''produtos raros'' que mesmo sem eu saber me contaria algumas coisas interessantes, e me faria ofertas até que razoáveis logicamente, mas que a maldita ética me inibiu de aceitar.

Naquela noite, enquanto eu tocava em frente a minha casa, esse estranho (em todos os sentidos da palavra) apareceu, me perguntando diretamente, sem nem um oi, e dispensando apresentações a principio.

- Qual o preço da sua alma?.

Eu sorri, e achei que fosse alguma brincadeira mal feita de algum conhecido que eu tivesse me esquecido de conhecer, mas ele não sorria, nem demonstrava qualquer coisa que me fizesse duvidar da seriedade dele.

Eu parei de rir, e perguntei quem era ele(além de me questionar mentalmente se ele tinha usado alguma substancia química...). Ele então finalmente moveu os lábios em sinal de cumplicidade, e disse:

- Alguns de vocês me chamam de demônio...

Eu não me assustei, afirmei a ele que eu sequer tinha fé em deus, muito menos acreditaria em demônios. O suposto homem que antes parecia são, e que agora adquiria pra si um ar de psicopata calculista afirmou:

- Deus existe meu caro. Ele talvez não seja como vocês pensam, mas até eu acredito nele, você não deveria renegá-lo.

Mais uma vez as palavras do aliciador soavam como chacota ou sarcasmo (achei isso naquela hora por eu mesmo ter esse tipo de comportamento às vezes). Novamente a pergunta foi exposta a mim:’’diga o preço de sua alma, todos tem um preço’’ respondi com um balançar negativo de cabeça pronunciando um não sem nenhum som.

O misterioso homem que tinha um estilo de poeta decadente com “metáleiro clássico” insistiu:

- alguns querem dinheiro, outros querem amores que pra eles sozinhos seriam impossíveis, outros querem talento... E você? Pelo que me daria sua alma? Entenda... Minha proposta é ótima, uma vez que você não acredita em paraíso ou inferno, isso aqui é tudo que há pra você, escolha algo que faça tudo isso valer à pena, que te de um sentido pra estar aqui, pelo menos acabaria com sua ansiedade por respostas... E eu só cobraria quando você morresse.

Ocorreu-me então a única coisa que seria prudente pedir em troca da minha alma, uma alma única, a minha favorita e a mais preciosa pra mim, a minha alma! . A resposta foi direta e cheia de pré-potencia por eu achar que desarmaria alguém que se achava superior: ’’ quero a imortalidade pela minha alma, se eu posso pedir qualquer coisa, é o que eu quero, assim não tem como tomá-la de mim há menos que eu morra... O que seria um tanto impossível se me desse o que eu peço...

O mercador parou por um instante para pensar, acho que não encontrou nem uma replica plausível para as minhas condições, resolveu-se então por mudar o preço dele, uma vez que se ele aceitasse não iria receber nada, e ele não me parecia o tipo de pessoa (ou criatura)que faz caridade... Com um segundo sorriso, dessa vez mais seguro de si e cruel disse:

- muito bem, mas se o seu preço é tão alto... você vai ter que me pagar a prestações...

Indaguei:- prestações? Como poderia eu pagar minha alma parcelada? Ela por acaso é divisível? O sorriso dele aumentou, e eu ouvi um principio de gargalhada, que finalmente me assustou um pouco...

Ele completou a gargalhada dizendo: - Com a alma dos seus filhos. Você pode viver pra sempre, mas cada filho que você tiver, ao morrer me deverá a respectiva alma que você não poderia pagar, como dizem por ai, dividas de família morrem na família...

Toda minha arrogância que se devia a achar que as minhas condições não tinham chance de falhar, se esvaia com aquelas palavras...

Eu não tenho filhos, não os tinha nesse ‘’sonho’’ e nem tenho planos de ter-los, mas ainda assim jamais negociaria algo que não me pertencia. Por mais que os filhos só existam por causa dos pais, eles são criaturas livres(na medida que o mundo permite-lhes liberdade) e a posse de suas almas só caberia a eles e não a mim. Perguntei então por que o interesse dele era tão grande na minha alma. Então o sujeito até aqui sem nome, mas que por acasos do destino tinha um boton em forma de estrela que brilhava preso a jaqueta o que me deu a idéia de chamar-lo de ‘’star of light’’* (em latim é mais ‘’engraçado’’) respondeu:

- não faria diferença pra você, e mesmo que fizesse, não cabe a mim dizer-lhe,digamos apenas que você ao sonhar com a imortalidade não pensou em como tediosa ela pode ser, e alguns dos que nunca morrem gostam de fazer apostas as vezes...

Depois de refletir sobre o que ele me disse por um tempo pequeno mas que parecia interminável(o tempo nos devaneios é psicológico, e dura muito mais para quem esta pensando do que para quem espera pelas respostas). Disse-lhe:- Não, a resposta é não, eu posso ser mortal, posso não entender a razão das coisas e posso querer realmente prolongar essa única versão conhecida por mim da realidade... Mas, brincar com a vida das pessoas, ou com a alma delas, isso não é humano, seria preciso que eu fosse um psicopata imortal extremamente entediado... deixo esse tipo de ‘’passa-tempo’’ macabro para aqueles que tenham versões mais ‘’tortas’’ do que é certo’’.

Então acordei... fiquei em duvida se aquilo havia sido um sonho ou pesadelo... Mas tarde eu descobriria que era só o começo, Como dizia o poeta: “ Existe o certo, o errado e todo o resto”

* Star of ligth/star of morning: Significa estrela da manhã, comparada com a estrela d’alva ou Venús, em latim :’’Lúcifer’’

Autor: José Amilton