sexta-feira, 29 de julho de 2011


O sol nasce todo dia, e ainda sim é velho. Eu só nasci uma vez -exatamente há vinte anos- e dizem que sou novo...

Os anos? Os anos nunca importaram de verdade... A vida sim, tanto o que foi vivido quanto o que deixou de ser. Mas, o que deixou de ser?

A Partir de hoje sou como o sol. Afinal, a gente renasce em cada descoberta, em cada nova alegria.



"Remember when you were young, you shone like the sun..." (Shine on you crazy diamond - Pink Floyd)

terça-feira, 26 de julho de 2011

Pro inferno com a morfina.

Era um hospital de quinze andares bem no meio daquela metrópole -suja de sangue, álcool e fumaça; tudo misturado com o cheiro de suor-. Ele estava no penúltimo andar, na cama ao lado da minha, os curativos cobriam quase todo o seu corpo -fora alvejado por tantas balas que ficou parecendo uma peneira, com todos aqueles furos-; os remédios entravam por um tubo posto na veia do seu braço esquerdo junto com o soro, e o sangue saia em resposta: Por cada perfuração coberta daquele corpo desfalecendo.
Ele estava na cama da janela, e eu sabia que logo aquela cama passaria a ser minha... E, se não fossem aquelas transfusões que faziam, para repor o sangue que ele suava pelos poros, eu já teria visto o que tinha do outro lado daquela janela; então perguntei :
-Quando é que vais parar de beber o sangue alheio e partir de uma vez, vampiro de hospital?
-Isso também não me agrada, eu prefiro um bom wisky ou uma vodka. Mas, essa groselha que entra pelas minhas veias é que me mantem vivo, e viver é melhor que qualquer bebida.
Os enfermeiros tinham parado de dar as doses de morfina dele -eles usavam neles mesmos, ou vendiam-, e a dor era tão evidente na sua expressão que eu podia senti-la como se fosse em mim. Ecarei-o um pouco. Ele me retribuiu com um sorriso, cínico. Então continuei:
-Posso desligar os tubos se quiseres. Não vais passar dessa semana mesmo, e os enfermeiros viciados não vão mais te anestesiar.
-Não quero anestesia...
-Preferes sentir dor?
-O que mais eu sentiria aqui?
-Nada, as vezes é melhor não sentir.
-Idiota... -Podia-se notar o desprezo e arrogância no olhar que ele me lançou, e ele continuou... -Enquanto doer, vou saber que ainda estou vivo.
Calei a minha boca. Nenhum analgésico podia amenizar o que eu senti nos dias seguintes. O homem da cama ao lado sorria até o fim, contente por sentir. Ele me ensinou que isso era só o que importava.



*Me queime vivo ou congele-me até as coisas esquentarem o bastante para que eu derreta, mas não me deixe morno... O meio termo não me cabe, afinal se eu for grande vou passar por cima da cerca, e se for pequeno me esgueiro por baixo dela, mas, se for médio vou acabar preso... Eu, preso por uma cerca?

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Polissemia romântico-existencialista.


Sinto agora, e mais tarde passa...
Depois que já senti: sentido está, ou estava...
Não sinto ter sentido, não tem sentido sentir.
Sente-me, pois, sem ti me sinto só.
SENTIMENTOS: sentimos em momentos.

Passageiros... Viajando com um único sentido: Em frente.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Tentando acordar da realidade 3.



(De play e ouça enquanto lê.)


De novo, e de novo e de novo: a velha vontade de sair me persegue, sem dificuldades já que eu fico aqui sentado.
Queria estar agora numa praça soturna, com um banco no meio, rodeado por árvores e mais ninguém; talvez alguém que tocasse violão, ou um violão que tocasse só... O fato é que eu queria ser tocado pela musica. - Poderia tocar eu mesmo, mas preferiria ficar imóvel-.
Faria um acordo com os acordes para que eles me acordassem dessa realidade monótona, muitas vezes vivida em piloto automático, e em troca eu daria a única coisa que posso oferecer humildemente à musica: Meus ouvidos. E ouviria, ouviria como se fosse meu melhor amigo falando, ouviria como se cada som fosse minha poesia favorita sendo recitada, ouviria cada nota notável dessa harmonia de viver.
A lua iluminaria, e a musica de fundo seria uma serenata espanhola chamada: spanish romance. Que cai perfeitamente aos ouvidos, nessa noite, seja só ou acompanhado.
É tarde, e me disseram que não é seguro sair a essa hora... Mas, o que na vida é seguro de fato? Viver é perigoso, mas quem evita a vida pra se proteger, corre um risco muito maior: O de não viver.

Talvez eu não queira só sair de casa, do meu bairro, cidade, estado ou pais... Acho que eu quero mesmo, é sair de mim.














Vídeo: Spanish Romance - Compositor anônimo, interpretado por Nelson Amos. Fonte: Youtube.

sábado, 9 de julho de 2011



-Pai, porque o senhor não tem pai também?
-... Eu tive, meu filho, mas ele foi pro "céu" ...
-Ah... Eu já ouvi sobre o céu... A mulher da TV disse que se seguimos o caminho certo, a gente vai pra lá... Fica ali ó! -Disse o menino apontando pro céu, e inocentemente achando que tinha dito uma grande verdade.
-O pai sorriu -
-O menino continuou -Qual é o caminho pai? Vamos por esse caminho, ai a gente visita o seu pai, e volta pelo mesmo caminho: não da pra se perder se voltar pelo mesmo caminho. É assim que a gente volta da escola todo dia: O senhor me leva pra ela, e me traz pelo mesmo caminho, é seguro.
-Uma lagrima desceu do rosto do pai, e ele não queria desapontar o filho, então sorrindo perante a genialidade imaculada do menino, ele disse - Filho, o céu é muito grande, e não tem uma porta. Todos os caminhos nos levam pra ele, e tem alguns que conseguem chegar lá mais rápido que outros... Ele fica lá em cima mesmo, você acertou - Então os dois olharam pro céu, que estava azul e com nuvens quase transparentes...
-Eu sei que é lá em cima pai, mas como a gente vai chegar lá? É mais alto até que as escadas da escola, e eu nem subo elas até o final! Eu tenho medo de altura...
-Não precisa ir até lá pra chegar... Não precisa ter medo, você tem medo de ficar em pé todo dia?
-Claro que não! Eu até corro e pulo, e eu adoro pular e correr! Mas eu sou baixinho... Não é alto o suficiente pra dar medo.
-Você é baixinho agora... Mas, um dia vai ser muito alto, e vai crescer um pouquinho todo dia, nem vai perceber que cresceu tanto... Só vai notar a diferença quando ver as fotos de quando era menor.
-Claro que não! O senhor riscou minha altura na parede, com aquele lápis, semana passada, é só eu ver se eu passei do risco... Mas eu não vou ter medo! Vou ficar bem grande, ai vou conseguir pegar os biscoitos que ficam naquele pote, em cima da geladeira!
-O pai riu -Isso mesmo campeão, vai conseguir pegar todos os biscoitos que quiser, e sua mãe nem vai reclamar. E é assim que a gente vai pro céu: Crescendo. Crescemos um pouquinho todo dia, no fim do ano a gente já cresceu o suficiente pra perceber. Passamos a vida toda indo pra cima, cada centímetro que crescemos faz ficarmos mais perto do céu, e quando você estiver do tamanho que tem que estar pra chegar lá, acontece algo inesperado, e você vai pra lá... Mas não precisa ter pressa, porque depois que cresce, não da pra diminuir, então quando a gente chega lá, não da pra voltar, nem pelo mesmo caminho.
-Nem com banho de água fria? A mamãe diz que minha roupa encolhe com água fria. Eu posso crescer, ir pro céu, tomar um banho gelado e voltar...
-O pai soltou levemente outra risada -Não, água fria só funciona com roupas. Então não tem volta mesmo.
-Ah, entendi! Então vou crescer bem devagar...
-Isso, bem devagar, as coisas acontecem na hora que tem que acontecer... E, falando em hora, é hora do almoço. Temos que ir, sua mãe vai ficar uma fera se atrasarmos.
-Ta bom! Eu to morrendo de fome mesmo. Depois do almoço o senhor pega um biscoito de cima da geladeira pra mim? Só até eu alcançar a lata...
-Pego...
E os dois foram pra casa, felizes, olhando pro céu e imaginando que gostosuras iam comer naquele dia.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Quero que queiras o mesmo que eu quero.

Eu já gritei a liberdade dos meus amores pra mais do que quatro ventos, já desisti de possuir e aboli minha escravidão sentimental.
Mas, agora é diferente, agora quero desistir disso tudo, só pra insistir em ti: Quero que rasgues minha alforria, ou compre-a com tuas palavras de poesia-feitiço, e ponha a euforia de sentir, aonde só havia a minha lógica covarde.
Sei que tudo tem um fim, mas mal começamos e já me fazes planejar - Não sou disso! -, queria, e quero: Que só queiramos um ao outro, queiramos juntos e queiramos sós, eu e tu sozinhos naquela rede.

sábado, 2 de julho de 2011

Escrevivendo, de novo.

Espero pra viver, vivendo...
Cheguei até aqui, e vim vendo.
Com minhas alegrias, simples companhias, sejam elas seres vivos, ou não...
Quero sempre algo diferente, mas por vezes me acomodo...
E de que modo não faria? O que buscar?
Amor? Amigos? Novas sensações?

Viver é o que o cérebro interpreta de experiências sensíveis, quem nada sente, já morreu.



Escrevi o que vi
Escrevi no vir, no estar e no ir
Escrevi, vi
Escrevi, vendo
Escrevi, (vem) ver
Escreveria mesmo que ficasse cego;
Escreverei até eu morrer.

Já amei, e sei como meu amor funciona: Ele é livre, não me julgo dono dos meus amados, sejam eles vivos ou não; pessoas, animais ou objetos só os quero em minha vida, com a freqüência que à eles for possível e agradável, desde que ainda exista alguma freqüência.

Não acredito em amor a primeira vista, porque primeiras vistas enganam, estão sempre com o bônus da novidade, e o novo –enquanto ainda o é- surpreende e cativa...

Enquanto as surpresas renovam-se, apaixono-me cada vez mais... Mas, a paixão é temporária e irracional, e com o tempo, acabo pensando por demais, e racionando-a por medo de acabar... Porém essas chamas precisam de muito pra queimar, e se diminui-se seu ar, ela começa a apagar, ou pior, sufocar ...

Algumas das paixões viram brasa... E ainda aquecem, aconchegantemente, sem fazer suar nem deixar-me no frio, não são mornas, mas são na medida certa... E essas podem virar amor, as brasas que nunca deixam de incandescer...

Amor não causa dor... Mas me dôo, justamente por não me doar...

Quero alguém que me ame, do jeito que eu amo... Quero sentir junto, sem posses, ficar a deriva do sentimento... Ao mar... Ao vento...

Murmúrio

Sopra, se é amor, deixa à mar...

Na vela ele navega e queima...

Pois ambas as velas, como meus pulmões,

Se alimentam desse ar...