A luz da praça se apagou. Não a luz de qualquer praça, mas a de uma especifica: A praça aonde nos encontrávamos todas as noites.
A luz nunca tinha sido realmente importante, aliás, a falta dela sempre garantiu que clima fosse adequado ao romance.
No entanto, naquele dia nublado a treva era maior do que o aconchegante lençol de penumbra que sempre acolia os amantes
A sombra escondeu-os, fazendo com que só pudessem procurar um pelo outro através do tato...
E lá foram eles, tateando a praça, cada árvore, cada flor e banco. Havia uma esperança somada com expectativa, enquanto cada um assoviava de um lado da praça sua canção favorita
Já tinham usado essa tática antes, no entanto dessa vez era diferente. Nos duetos anteriores cada um tinha feito participação com uma melodia diferente e embora tivessem gostos parecidos, tinham diversas canções favoritas então nunca coincidiam.
Não dessa vez! Naquela noite escura, finalmente cantarolaram no mesmo tom: As mesmas notas, no mesmo ritmo e com a mesma emoção cega.
Seguiram as notas apaixonadas, e escalaram todas as notas exceto SOL, talvez já tivessem entendido que o sol não cabia na opacidade da melodia que compunham juntos.
Os sopros de respiração cantante iam ficando mais próximos, até que um já podia sentir o ar que os pulmões do outro expulsava em formas de sustenidos e bemóis. Até que: Silencio!
Os sons calaram-se e mais nada se ouvia naquela noite.
Ela, romântica como sempre, sonhou com ele durante toda a noite, ansiosa pelo despertar daquele sono - que seria rompido com uma realidade ainda mais linda.
Na manhã seguinte a luz já havia instalado-se no coreto que tinha sido palco daquele amor shakespeariano. A única coisa que restava da noite anterior era o silêncio.
Ele acordara primeiro, e temeroso por interromper o sono de sua amada, sutilmente beijou sua face. O som do beijo, ainda que quase um suspiro, foi suficiente para acorda-la.
Ela sorria abrindo os olhos lentamente. Sua visão era turva da noite passada, até que avistou seu companheiro e deu um passo pra trás.
Viu que ele não era seu amante.
Assustou-se por ver que tinha passado a noite com um desconhecido! Culpou-se por ter traído aquele para quem ela tinha jurado amor.
Ele observou calado, e disse:- Pelo contrario, você não traiu a ele, e sim a mim. Veja o que sentimos, veja como estamos no mesmo tom...
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