quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Vago, não há vagas.

 Ultimamente tenho sentido um vazio enorme. Na verdade, ele sempre esteve aqui. Escondido por trás de compromissos e metas, mas sempre crescendo e ocupando o lugar de tudo que perdia. Como se a cratera gravitacional fizesse questão de assorear as margens onde sonhos perdidos haviam sido construidos e levados pelos ventos do tempo. Por vezes rodeio esse tenebroso canyon de mim e tento admira-lo com certa beleza. Falho em seguida e entro em desespero. Penso em tudo que fui e tudo que deixei de me tornar. Quis tanto e hoje pareço não querer nada. Houveram momentos em que pensei em acabar com tudo, e com minha própria vida. Mas hoje em dia sinto que as coisas estão ainda piores: Não  sei se de fato ainda sinto algo. Entorpecido pelo tempo, os momentos de meditação são os únicos que consigo sentir paz. Quando acordo e não levanto para trabalhar, nem me desculpo, afinal sou meu próprio chefe. O dinheiro não tem sido suficiênte mas a bola de neve dos cartões ajuda a atrasar a falência. Enquanto isso sigo empurrando a existência com a barriga e tendo cada vez menos momentos de lucídez. O celular, jogos, pornografia e distrações do mundo moderno me deixam mais alto que qualquer droga que já usei. Quando fumava ou bebia, pelo menos a euforia de viver aflorava. Agora afundo-me no sofa como ele fosse aquele vazio dentro de mim. Sofro sem transparecer e só demonstro indiferença. Na maior parte do tempo, nem me esforço para socializar, apenas ignoro todos. 



Fui demitido de mim mesmo e não cabe indenização.
Causa justa: descaso da vida, omissão.