domingo, 2 de maio de 2021

O que é felicidade?

Já fui feliz com leite,

Fui feliz ao ser limpo,

Felicidade já foi o recreio,

Depois passou a ser intervalo, pra não pagar mico. 

Um sorriso, um beijo, uma nota alta ou um gol.

Aprovações, cursos, estágios e um emprego bom.

Felicidade já foi o quinto dia útil, 

Já foi uma manobra feita pela primeira vez,

Foi o gozo e suspiro arrancado de corpos suados, 

Foi a promoção, o carro novo e a casa própria.

Felicidade já foi o cachorro que era filho,

e o filho que depois passou a cuidar do cachorro.

Felicidade é o novo, o resinificado.

Felicidade vem e vai, ser infeliz não é pecado.

Há felicidade na rotina, no futuro e no passado.

Mas e agora, o que te faria feliz? 

Olhe para os lados!

A felicidade é sempre agora, só perceber isso que demora.


O que te faz feliz agora?

Dó de domingo.

 Outra cerveja, outro gole, outro dia e outro poema.

Versos repetidos e resignados, rotina transcrita em poesia.

Almoço atrasado, planejamentos que nunca serão cumpridos e sonhos que não são meus.

Enfiados em mim, alimentam-se de entranhas e de vontade de viver,

Crescendo na mesma medida que esta outra se esvai...

Chuva e terra molhada... Essas coisas já me fizeram feliz, hoje parece que nem a cerveja mais gelada...

Depressão? Ansiedade? Remédios! Porque sofrimento não pode nos parar.

Que vivamos e sigamos em frente, fronte entorpecida e poesia poente.

Prosseguir até o dia da tão demorada partida. 

Para onde? Talvez para outra versão insipida, onde ao fundo toque la Belle De jour.

Depois de muito ser partido, o coração decidiu partir.

Depois de muito ser partido, ele decidiu partir: Foi atrás de si mesmo, de um espelho honesto e verossímil no qual pudesse se ver. 

Olhou-se através dos olhos de luxuria, só via gozo vazio e buracos cujo entra e sai jamais iria preencher.

Olhou nos olhos de sua carreira, até que perdeu o emprego, só via sua divida crescer...

E de vida nada entendia, pagou com sanidade o preço que a sociedade achava justo.

Passou a vagar vazio, atrás sabe-se lá de que.

Se perdeu tentando se encontrar e fez uso de toda antítese prosaica na qual podia pensar.

Poesia não mais bastava, versos lhe causavam aversão e toda silaba era mera alegoria, 

falsa afirmação, distração.

Da  vida,

da dúvida,

de vil válvula de escape para outra noite turva.

Quando foi que os vapores do álcool passaram a embriagar menos que só "viver"?

Vida

Vazio 

impossível de preencher.