Desabafo.

 Hoje é dia dos professores e decidi parabenizar alguns dos professores que fizeram diferença na minha vida: Uns como meus tutores, outros como colegas de trabalho ou ex-alunos que se tornaram profissionais incríveis. 

 Em cada mensagem tentei ser especifico e lembrar alguns dos bons momentos que compartilhamos, eles ficaram muito felizes, alguns se disseram emocionados e eu mesmo chorei enquanto lembrava de algumas dessas histórias. 

 Ser professor no Brasil é muito difícil, um ato de resistência e tentativa de sobreviver perante tanta desvalorização e falta de reconhecimento. Não sei de fato se temos o que celebrar além da coragem e resiliência. 

 Feliz dia dos professores para todos que ensinam e aprendem. Que a falta de reconhecimento dos patrões mude e seja proporcional a dedicação dos mestres e resultado nos alunos. 

Dê parabéns aos professores que conheces, eles precisam disso.

 I say I won't let this build up inside of me, but it's already as built up as a whole city of sorrow.

"Digo que não vou deixar isso crescer dentro de mim, mas já cresceu uma cidade inteira de tristeza"

   Andando pelas ruas vazias da memoria, vejo todos os lugares que visitei e festejei, sujos e sucateados como se nunca mais fossem ser usados. Em tese uma boa faxina e reforma funcionariam, mas a cidade inteira parece uma cidade fantasma, não sinto ter tempo ou animo para os reparos. Por várias vezes decidi abandona-la onde deve estar: no passado, mas sempre acabo voltando pra lá. É como se mesmo depois de uma passeata de alegria, a próxima esquina -em uma mágica infeliz- me levasse até a cidade fantasma novamente.

   Por que tentar de novo quando tudo há de se repetir? Claro, se eu mudar talvez tudo mude. Tenho razões para tal e já consegui antes, mas me sinto cansado. Cansado de tentar e falhar. Cansado das mesmas perguntas sem respostas e da falta de sentido de tudo. Tento atribuir significados efêmeros a vida sob a desculpa dela ser tão passageira quanto eles, mas antes que a vida realmente passe os significados se esvaem. Tantas vezes já fechei os olhos e pedi a todos os deuses, criaturas superiores, universo, energia, programador ou o que quer que seja que cessasse minha existência. Nenhuma resposta. Só o silêncio ensurdecedor da minha mente. 

   Podia ser pior, minha psiquiatra sempre pergunta se ouvi vozes ou algo do tipo, acho que se ouvisse dificilmente seria ateu, deve ser realmente muito estranho ter sujeitos diferentes disparando enunciados -conexos ou não- na sua cabeça. Na minha o máximo que tenho são nuvens de ideias abstratas e em linguagem só quando leio ou canto mentalmente.

   Hoje estou bebendo, na véspera do meu aniversário. Já passei ele em festas com estranhos, em rodizio de pizza com amigos, em festas na piscina organizadas por ex-namoradas ou por mim mesmo. Amanhã quero passar dormindo. Talvez a noite decida ir a um rodizio de pizzas de novo, comer até explodir e voltar pra dormir de novo. Sei que sou importante para muitas pessoas e muitas delas gostariam de estar comigo amanhã, talvez por essas pessoas ainda esteja aqui, escrevendo invés de  tirar o cinto e bater o carro a 160 por hora. E se eu pudesse desapontar tanto essas pessoas e me afastar que não sobraria ninguém pra se importar? E se fizesse isso devagar? Já tentei, mas inevitavelmente outras pessoas entram na minha vida e adquirem importância, um ciclo interminável e por vezes fatigante.

   ACABOU! O que? Tudo. Eu acabei. De existir, isso é só um sonho, um pesadelo. Fecho os olhos e tento acordar, nada acontece. Continuo ouvindo Pearl Jam no fundo e escrevendo coisas tristes pra quem cometer o erro de me ler.

   Uma garrafa de vinho não parece suficiente hoje, não me entorpeceu nada e a vida dói tanto quanto antes. Queria morphina ou morrer. Mas tudo que terei hoje é essa garrafa de vinho e pedidos de socorro em forma de textos que provavelmente não serão lidos. Evaporar parece bom.

O que é felicidade?

Já fui feliz com leite,

Fui feliz ao ser limpo,

Felicidade já foi o recreio,

Depois passou a ser intervalo, pra não pagar mico. 

Um sorriso, um beijo, uma nota alta ou um gol.

Aprovações, cursos, estágios e um emprego bom.

Felicidade já foi o quinto dia útil, 

Já foi uma manobra feita pela primeira vez,

Foi o gozo e suspiro arrancado de corpos suados, 

Foi a promoção, o carro novo e a casa própria.

Felicidade já foi o cachorro que era filho,

e o filho que depois passou a cuidar do cachorro.

Felicidade é o novo, o resinificado.

Felicidade vem e vai, ser infeliz não é pecado.

Há felicidade na rotina, no futuro e no passado.

Mas e agora, o que te faria feliz? 

Olhe para os lados!

A felicidade é sempre agora, só perceber isso que demora.

O que te faz feliz agora?

Dó de domingo.

 Outra cerveja, outro gole, outro dia e outro poema.

Versos repetidos e resignados, rotina transcrita em poesia.

Almoço atrasado, planejamentos que nunca serão cumpridos e sonhos que não são meus.

Enfiados em mim, alimentam-se de entranhas e de vontade de viver,

Crescendo na mesma medida que esta outra se esvai...

Chuva e terra molhada... Essas coisas já me fizeram feliz, hoje parece que nem a cerveja mais gelada...

Depressão? Ansiedade? Remédios! Porque sofrimento não pode nos parar.

Que vivamos e sigamos em frente, fronte entorpecida e poesia poente.

Prosseguir até o dia da tão demorada partida. 

Para onde? Talvez para outra versão insipida, onde ao fundo toque la Belle De jour.

Depois de muito ser partido, o coração decidiu partir.

Depois de muito ser partido, ele decidiu partir: Foi atrás de si mesmo, de um espelho honesto e verossímil no qual pudesse se ver. 

Olhou-se através dos olhos de luxuria, só via gozo vazio e buracos cujo entra e sai jamais iria preencher.

Olhou nos olhos de sua carreira, até que perdeu o emprego, só via sua divida crescer...

E de vida nada entendia, pagou com sanidade o preço que a sociedade achava justo.

Passou a vagar vazio, atrás sabe-se lá de que.

Se perdeu tentando se encontrar e fez uso de toda antítese prosaica na qual podia pensar.

Poesia não mais bastava, versos lhe causavam aversão e toda silaba era mera alegoria, 

falsa afirmação, distração.

Da  vida,

da dúvida,

de vil válvula de escape para outra noite turva.

Quando foi que os vapores do álcool passaram a embriagar menos que só "viver"?

Vida

Vazio 

impossível de preencher.

 -Ética: analise universal das diversas morais aceitadas em culturas diferentes aplicada sob ótica impessoal. Seria então possível ser ético, mesmos sendo fruto de morais diversas?

-Fazia tempo que não falavamos conosco. O que houve?

-A vida, como sempre. Dessa vez a quase perda de algumas e produção de outra. Além da tentativa, persistente e frustrada de dar algum rumo a minha. 

-Nossa, você quis dizer. De volta ao tema: Acho que Lord Henry diria que não é possível ser ético, e que ser moral só dependeria das lentes do observador. Dorian concordaria, sujeito do primeiro que por sua vez era produto de Wilde. Mas qual a relevância de autores perversos nesse assunto? Sabemos que seja lá o que os filósofos digam, ignoraremos para seguir nosso próprio devaneio.

-Ou seja: Bem e mal não existem, são só o que fizeram que tomassemos por eles. Então seria mais prático tomar tudo que nós interessa como quer que seja. 

-Sim, mas o que nos permitimos considerar de interesse palpável?

-Difícil, diria que o que nos foi ensinado. Voltamos ao principio. Quer dizer então que o que não me permito fazer ou traz culpa quando feito é só produto social e, em instancia nenhuma pode ser considerado como certo ou errado de forma absoluta?

-A brecha que isso abre é perigosa. Então vamos aos extremos obvios: Matar um inocente é relativo?

-A própria inocência não é?

-Voltamos ao destino genetico-social.

-Destinados a voltar a ele.

Caro leitor, eu não matei ninguém.