terça-feira, 10 de julho de 2018

Uirá

Equilíbrio pode ser difícil as vezes. Vivemos em um constante balanço, tentando nos manter na linha e seguir em frente. Lutamos contra o vento, e o balanço das cordas, mas no fim o equilíbrio mais difícil vem de dentro: manter a postura correta diante dos desafios, abrir os braços pra vida e não esquecer de respirar.

-Posso tentar também?  -Perguntei ao rapaz que treinava na corda.
-Claro! Me chamo Uirá,  fique a vontade!
-Subi na  corda com ajuda de meu novo instrutor, achei que aprenderia só um novo esporte mas na verdade estava prestes a ter valiosas lições para a vida. -o que devo fazer? Perguntei ao rapaz de braços longos e nariz comprido.
-A parte mais difícil é subir.  Ponha uma perna e sinta o balanço da corda. Quanto mais pressão tiver na subida mais ela balança. O segredo é dobrar os joelhos para aliviar, respirar fundo e subir de uma vez.
-Pressão sempre dificulta tudo. Não sei porque disse isso,  mas fui assim mesmo. Fui devagar e cheio de cautela,  colocando o pé lentamente e tentando transferir meu peso grama à grama para a corda . Quanto mais quilos iam da perna que estava no chão para a suspensa, mais ela tremia, até que vibrou como como uma corda de violão e cai.
-Já disse, tens que ir de uma vez. Ela vai te dar um tranco de volta. Aguenta e sobe.
-sempre tem um tranco. Vou tentar de novo. Dessa vez segui o conselho e fui. Subi!
-Boa, rapaz! Agora abre os braços, é que nem planar, a corda vai só reagir as tuas vibrações e movimento. Respira e voa!
-Nunca planei,  acho que isso não ajuda muito. -Repliquei rindo.
-É como a vida. As vibrações externas de vento e rebate são imprevisíveis, mas tua reação a elas é que estabiliza ou chacoalha mais as coisas. Vai sentindo quando tens que te jogar mais pra anular a força que vem na tua direção e quando deves deixar ela te impulsionar.
-Ainda estás falando dessa corda?
-Olha pra frente. No Slackline seguimos em frente.
-Ok. Gosto da idéia de ir em frente, só não quero ir pra baixo.
-Esquece teus medos! Do chão não passas.
-A corda está tremendo mais agora!
-Não é a corda. O vento parou, tu é que estás tremendo!
-Vou cair!
-Respira!
Quando Respirei fundo meus músculos relaxaram, a tensão reduziu e  a corda parecia ter sumido. Não havia nada além de um caminho leve, nenhum problema grave, nem a gravidade parecia existir. Só a corda. Acordei do transe e disse -Estou conseguindo!
-Já não estou te segurando!
-Cai. Por que me soltastes?
-Tens que ter equilíbrio sozinho. Só vais adiante quando não precisar de ninguém além de ti mesmo. Não encare isso como um trauma, tenta de novo.
-Foi uma lição


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